sexta-feira, 8 de abril de 2011

ária vária

porque o desejo
não respeita muros
nem trincheiras. chega
cega e segue
e suga os corpos
numa saga impar
de não vencedores. dores
dores dores
e ardores árduos
na labuta das peles
no frêmito da carne
nas entradas e bandeiras
estradas de suores, sal
e de saliva
cuspindo beijos
iconoclastas
em qualquer boca.

porque a paixão é assim: fogo,
queimante,
brilhante e fugaz
delírio
lírio temporão
e atemporal
carnal.

e o amor, ah, o amor
há amor
fora dos compêndios
dos manuais e dos olhos
dos poetas?
o amor é aquela coisa toda
de se deitar com os detalhes
adivinhando o gosto da boca
um do outro. saber à luz
e escuro, à força e fraqueza
é beleza que se aninha
nos braços
que se estendem, que apertam,
que deliram,
ao toque simples, ao dedo
que se alcança
a um seio que entrega
à mansa sofreguidão
de quem tem
todo o tempo
mesmo que assim não seja.

poque o amor descansa
repousa em nossa pele
não busca sucedâneos
nem instantâneos poéticos:
Ele é a poesia
que se faz em cada poro
quando os amantes se deitam:
obras inacabadas
sinfonias
De corpos,músculos, nervos,
E ausência de palavras.